Nome de praça vira polêmica
Ana Paula Siqueira, Jornal do Brasil
BRASÍLIA - O Brasil ainda tenta descobrir muitos mistérios sobre fatos ocorridos nos porões da ditadura militar, que dominou o país entre 1964 e 1985. Entretanto, muitas ruas, avenidas e praças ainda levam nomes de pessoas acusadas de crimes de lesa-humanidade, como autoridades que adotaram a tortura como prática. A Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas é um desses lugares. Estudantes da própria PUC e movimentos sociais lutam para trocar o nome da Praça Emílio Garrastazu Médici, construída em 1973, para Frei Tito de Alencar Lima, uma das vítimas dos anos de chumbo.
A iniciativa dos estudantes do Centro Acadêmico XVI de Abril foi abraçada por entidades como o grupo Tortura Nunca Mais, o Núcleo de Preservação da Memória Política e o Fórum de Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo, entre outros. E se transformou num movimento com direito a petição online. Assinaturas digitais estão sendo colhidas para pressionar a PUC a trocar o nome da praça. Mais de 1.800 pessoas já subscreveram o pedido.
De acordo com a estudante Carolina Bissoto, ligada ao Centro Acadêmico XVI de Abril e aluna da pós-graduação da universidade, a reivindicação é antiga. Entretanto, no dia 5, o manifesto intitulado Praça Emílio Garrastazu Médici Nunca Mais! foi publicado na internet e começou a ganhar mais adeptos.
– Achamos uma injustiça (o atual nome da praça). O correto é homenagear pessoas que lutaram contra a ditadura – defende a estudante.
Tortura Nunca Mais
O vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Marcelo Zelic, classifica a denominação da praça como “auto-homenagem” dos militares durante a ditadura. Para ele, é preciso chamar a sociedade para o debate e conhecer a biografia dos homenageados.
– A tortura ainda faz parte do dia a dia das delegacias. Foram criadas formas de aplicar tortura que ainda subsistem, e o risco da banalização é muito grande. – disse Zelic. – O desaparecimento forçado aconteceu com muito mais ênfase no governo Médici.
Ele defende o nome do Frei Tito Alencar Lima para rebatizar o local. O Tortura Nunca Mais luta para que nomes de pessoas que praticaram ou permitiram a tortura sejam retirados de logradouros públicos em todo o país.
Na mesma linha de Zelic, o presidente do Núcleo de Preservação da Memória Política, Ivan Seixas, critica a permanência da homenagem.
– A PUC aceitou essa homenagem macabra, mas os estudantes não foram consultados – argumenta.
PUC
A universidade divulgou nota afirmando que está ciente da mobilização, e que “tem discutido internamente a respeito”. E se defende ao dizer que batizar a praça com o nome de Médici se deveu ao “apoio do Ministério da Educação e Cultura da época para a construção do Campus I” e conclui “que de forma alguma a placa representa ou simboliza que a PUC-Campinas compartilha os atos de repressão praticados no período”.
A estudante Carolina Bissoto, do movimento estudantil, afirma que a universidade não deu nenhum posicionamento aos estudantes. O movimento deverá ser intensificado após as férias de julho.
Cada um
Frei Tito nasceu em Fortaleza (CE). Em 1966, ele entrou no noviciado dos dominicanos, em Minas Gerais. Dois anos mais tarde, foi preso e torturado por cerca de 30 dias após participar de um congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Em 1969, foi preso novamente e voltou a sofrer torturas. Ele foi deportado para o Chile e depois fugiu para Itália e França. Em 1974, depois de passar por tratamento psiquiátrico, ele foi encontrado morto, pendurado pelo pescoço em uma árvore.
Emílio Garrastazu Médici tomou posse como presidente da República em 1969, e ficou conhecido pelo “milagre econômico”, que no final de seu governo já não andava muito bem. Seu mandato ficou conhecido como o mais obscuro e repressor do militarismo.
São Paulo recentemente trocou o nome de uma rua. A SP-332 foi rebatizada para Professor Zeferino Vaz, antes denominada General Milton Tavares de Souza.
.21:10 - 18/07/2010
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