sábado, 10 de julho de 2010

SP-332 agora é Prof. Zeferino Vaz

Cidades
SP-332 agora é Prof. Zeferino Vaz
Assembleia Legislativa aprovou a retirada do nome General Milton Tavares de Souza da rodovia

Delma Medeiros
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
delma@rac.com.br

A Rodovia SP-332, que liga Campinas a Conchal, mudou de nome. Ao invés de General Milton Tavares de Souza, agora é Professor Zeferino Vaz. A mudança faz parte do movimento contra o militarismo e que propõe rediscutir os crimes contra os direitos humanos cometidos no período da ditadura militar. A substituição, aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), entrou em vigor no dia 4 de junho, com a publicação no Diário Oficial do Estado (DO) da lei 711/09.

Para o deputado estadual Milton Flávio (PSDB), autor do projeto de lei, a mudança vem corrigir a distorção de homenagear pessoas que torturaram ou apoiaram a tortura no Brasil. “A mudança corrige uma injustiça. A tortura é inaceitável, um crime hediondo e imprescritível. Não tem sentido homenagear ou manter homenagens a pessoas que sabidamente cometeram crimes contra a humanidade”, disse. “A estrada passa próximo à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um complexo educacional de extrema importância. Dar à rodovia o nome do homem que foi o grande mentor da criação da universidade é uma forma de homenagear os que lutaram pela construção de um país melhor”, afirmou.

Flávio também é autor de outro projeto, ainda em tramitação na Assembleia, que veda a denominação de prédios, rodovias e repartições públicas com nomes de pessoas que tenham praticado ou autorizado atos de tortura. “Este projeto é anterior ao da rodovia. Mas, como a denominação do general foi definida por decreto, pensei que seria mais fácil conseguir a aprovação”, explicou, citando que se aprovado o outro projeto, além de proibir novas homenagens, vai permitir a revisão das já feitas a torturadores.

“O codinome do general na época era Milton Caveirinha, porque ele pregava a morte dos adversários do regime. Ele tinha um discurso duro e comandou a Central de Informações do Exército num dos períodos mais duros da ditadura”, disse.

Repercussão

“Acho ótima e merecida a homenagem ao professor Zeferino Vaz. Mas, o mais importante é a rodovia ou qualquer prédio público não ter o nome de alguém que não fez nenhum bem para a sociedade. A mudança de nome, por si só, é positiva”, disse a deputada estadual Célia Leão (PSDB).

“O Brasil precisa deixar de ser um país sem memória. Os crimes políticos não podem ser esquecidos”, reforçou Flávio. Segundo ele, não se trata de revanchismo, mas de cultuar heróis da democracia. Flávio lembrou que a estratégia de não homenagear ditadores é mundial. Chile, Espanha e Portugal, por exemplo, não têm mais referências a Pinochet, Franco e Salazar, respectivos ditadores desses países.

Placas

A assessoria de imprensa da Rota das Bandeiras, concessionária que administra a SP-332, informou que assim que saiu a publicação no DO, a empresa mandou confeccionar novas placas para substituir as atuais. Mas não soube informar quantas são, nem quando as placas com a nova denominação estarão instaladas.

A SP-332 tem 77 quilômetros de extensão, e vai de Campinas a Conchal, passando por Paulínia, Artur Nogueira e Cosmópolis, entre outros municípios. Ela foi inaugurada em julho de 1981, mesmo ano da morte do general.

SAIBA MAIS - Quem foi Zeferino Vaz

O médico e professor Zeferino Vaz foi o idealizador, fundador e administrador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) nas décadas de 60 e 70. Foi ainda criador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, secretário estadual de Saúde, em 1963, e reitor da Universidade de Brasília (UnB). Foi também o primeiro presidente do Conselho Estadual de Saúde de São Paulo. Após sua aposentadoria, exerceu até sua morte o cargo de presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Unicamp. Zeferino Vaz também morreu em 1981.

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