quinta-feira, 12 de agosto de 2010

MANIFESTO "FREI TITO VIVE"!

FREI TITO VIVE!
JUSTIÇA, MEMÓRIA E VERDADE NA UNIVERSIDADE

Homenagens e menções à agentes e financiadores da Ditadura Militar não são, infelizmente, casos isolados. Diversos são os logradouros e prédios públicos e privados com nomeações autoritárias, cuja memória política e histórica é sistematicamente ofendida.

A não superação deste período conturbado e violento é fruto direto da falta de uma real Justiça de Transição, que desvele a Verdade, promova a Memória e efetive Reparações, tal como protagonizados em diversos países que conduziram uma transição democrática efetiva.

Resquício deste período e mais um símbolo da nossa peculiar distensão política, a PUC-Campinas, até dia 10 de agosto de 2010, possuía em seu Campus Universitário uma placa referente à “Praça Presidente General Emílio Garrastazu Médici”, oficial responsável pelo gerenciamento da Ditadura Militar em seu período mais conturbado e repressivo (1969-1974).
Demolida pela instituição na data em que, há 36 anos, Frei Tito se suicidara em razão da perseguição política a que fora submetido (10 de agosto de 1974), sua retirada foi motivada por uma discussão pública promovida pelos estudantes junto à diversas entidades e defensores de Direitos Humanos, que questionavam a permanência de uma homenagem a um ditador dentro de um espaço universitário.

A retirada de Médici foi um avanço considerável, que demonstra que a atual gestão não possui compromissos políticos com o antigo regime. Pesa, no entanto, que tardou 25 anos desde a redemocratização para que houvesse sido tomada tal decisão que, assevere-se, foi provocada por difundida denúncia dos estudantes e da sociedade civil, através do Grupo Tortura Nunca Mais-SP, Fórum de Ex-Presos Políticos, Núcleo de Preservação da Memória Política, CONDEPE e Fórum de Direitos Humanos de Campinas.

Apesar da clareza da crítica e a evidente necessidade de resposta, a justificativa pública da Universidade foi escandalosa: “A placa que faz referência ao ex-presidente da república, Emilio Garrastazu Médici, foi retirada do canteiro em que estava instalada, desde março de 1973. Na época, a área era ocupada por uma praça que foi transformada em estacionamento. A Universidade vem debatendo o assunto em diversas instâncias e optou pela retirada da placa, considerando que há muitos anos a praça não existe mais”.

Não expressando uma motivação política de reparação, vez que pautou-se apenas na “inexistência” de um espaço que pudesse caracterizar uma praça e que, portanto, não cabia mais a existência de um nome, a PUC-Campinas perdeu uma oportunidade gigantesca de dar um passo em direção ao futuro e romper definitivamente com o passado, reconhecendo o a incongruência de tal homenagem.

Permanecendo assim, a Universidade apenas protagonizou uma negação da história, cobrindo (literalmente) com grama toda uma responsabilidade política. A promoção do esquecimento é, de fato, um dos mecanismos ideológicos mais presentes na defesa do período e na impunidade da Ditadura, ainda tão presente nos dias atuais.

Diante disso, fundamental se torna a homenagem proposta a Frei Tito de Alencar Lima, que preencherá o espaço vazio anteriormente ocupado pelo General Médici, mantendo viva a chama da justiça e da memória através de uma reparação efetiva.

Espera-se, a partir disso, o apoio da Universidade no aprofundamento desta discussão, envolvendo os estudantes, as entidades, os apoiadores e toda a sociedade civil. Algo não visto, por exemplo, na reunião realizada dia 11/08 na antiga Praça Médici, em que seus participantes foram vigiados, fotografados e acompanhados por funcionários da universidade infiltrados entre os estudantes. Infelizmente, a presença da ditadura vai muito além de uma praça, e é necessário encarar isso de frente no prosseguimento desta discussão.

Assim, se existe uma política interna que pouco mudou desde o governo Médici, em que as principais decisões são tomadas por uma cúpula de indicados, com pouca participação da comunidade acadêmica e sem envolvimento desta na construção universitária, muitos outros generais deverão cair até que possamos superar de vez a ditadura na PUC-Campinas.

Afim de iniciar o trajeto deste caminho, além de efetivar a reparação reivindicada a Frei Tito, necessário se faz aprofundar a discussão sobre o tema da Justiça de Transição aliada a uma abordagem contemporânea do papel da Universidade neste processo. Discussão essa que deve envolver toda a comunidade acadêmica, em conjunto com a administração da PUC-Campinas.

Desta forma, repudiando a negação histórica que um gramado vazio propicia, esperamos o compromisso da Universidade na tarefa que a história atualmente lhe cobra. Pela memória, verdade e justiça, Praça Médici Nunca Mais!


ASSEMBLÉIA DE ESTUDANTES DA PUC-CAMPINAS

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